Bem vindo à Clarissa

Acesse Clarissa NA LATERAL DO BLOG que estão na ordem correta, do capítulo I para o último.

Clarissa é a estória de uma mulher de mais de 50 que se afasta de seus familiares para viver uma vida solitária no campo, entre flores, animais e a natureza.

Clarissa era para ser um poema em texto sem rimas, sem métricas, por isto a imagem da poetisa.

Espero que você, leitor, goste, critique, e passe aqui também a sua emoção.

Quando eu fiz este blog com o meu livreto "Clarissa" não tinha experiência em blogs e não sabia que ele acabava sempre mostrando a ultima postagem e fiz ele normalmente. Depois tomei consciência de que ninguém pode ler um romance do ultimo capítulo para o primeiro, portanto, oriento voces a LER CLARISSA seguindo o menu lateral que foi colocado na sequência crescente.

Grata pela compreensão

ReginaCelia
ReginaCelia

terça-feira, 8 de março de 2011

Clarissa - último capítulo

Clarissa no

Mundo dos Sonhos

último capítulo



*****

Clarissa e a Poetisa, outra vez, saem para o passeio vespertino, o qual se tornou nos últimos tempos um ritual. Enquanto caminham conversam sobre tudo, ou simplesmente se calam para observar melhor a beleza daquela estrada, onde fica a famosa Curva do Caminho.

Clarissa naquele dia sente-se fora de forma, com um desconforto no peito, como se algo apertasse e o coração batesse devagar, depois rápido, incerto. Então pede para descansar um pouco.

Param bem debaixo da árvore, que divide a curva e faz dela um ponto onde se deve decidir, seguir em frente, ir para a direita, esquerda, ou simplesmente voltar ao ponto inicial.

Clarissa senta-se num tronco de árvore, já carcomido, que está estendido à beira da estrada. A Poetisa vem e ajoelha-se na frente dela, colocando a cabeça sobre seu colo e diz:

- Amiga, eu queria ser você... mulher bonita, por dentro e por fora, forte, firme, batalhadora e equilibrada... mãe amorosa e dedicada... esposa amada e admirada... amiga desejada e invejada. Mulher que sempre soube o que queria e sempre soube dar a todos o que todos esperavam de você.

- Mas, eu pobre poetisa, fui apenas um vento, às vezes brisa, vagando pelo mundo em busca de aconchego... buscando nos outros o amor que nunca encontrei pra eu própria SER FELIZ... buscando um abrigo seguro que nunca tive e que me tornasse um ser em equilíbrio.

- Fui mãe desatenciosa, embora amasse muito meus filho, não soube demonstrar... fui esposa omissa... filha rebelde... amiga muito amiga, mas nunca soube reter os amigos... amorosa, apaixonada, impulsiva, e com tantos sentimentos misturados e um grau ostensivo de agressividade nunca consegui segurar o amor nas minhas mãos.

- Eu fui sempre a mulher que ninguém quer, porque nunca servi aos objetivos de dominação, subjugo e servilismo que todo homem deseja, que toda família espera daquela que eles chamam rainha do lar, mas que rainha em verdade nunca é, e sim mera serva que obedece ordens e vive para entregar sem pedir retorno e para maior felicidade e conforto de todos procura até adivinhar as necessidades daqueles a quem serve.

- Fui rebelde, sonhadora, briguei pela vida, corri atrás de sonhos e não alcancei. Estou aqui agora, só e triste, debruçada no seu colo Clarissa, e não sei se sigo em frente, sigo à direita ou esquerda desta estrada da vida, pois voltar e refazer o caminho é impossível.

- Você foi submissa, doce, meiga, mãe, esposa, companheira, amiga, filha obediente, mulher exemplar, entretanto, chegamos as duas no mesmo ponto... nesta curva do caminho, sozinhas, esquecidas pelos que amamos, pelos que servimos e por aqueles que de nós se serviram.

A poetisa abre a mochila que sempre carrega com ela e coloca no colo de Clarissa muitos papeis soltos, rascunhos das poesias que escrevera e adormece ali, num sono profundo, cuja duração é incerta, talvez minutos, dias, anos e em seu sono profundo, sente-se como uma Andorinha voando nos céus.

Bate um vento forte e as folhas de papel que estão no colo de Clarissa começam a levantar vôo. Clarissa tenta segurar com as mãos... mas elas, rebeldes como quem as escreveu, seguem ao vento e vão subindo,..... Clarissa num último esforço ergue os braços para tentar segurar e grita... "não... não... fiquem aqui comigo, não se vão, vocês são os registros de minha vida, dos meus sonhos... a história do meu amor!".

Neste gesto último, Clarissa sente-se meio tonta e o mundo parece encher-se de uma luz resplandecente... no centro desta luz que se acende vê como se estivesse em êxtase, Guerreiro de abraços abertos, que sorrindo lhe diz:

- "Vem Clarissa... eu te amo."

A Poetisa acorda de seu profundo sono, sente-se leve, muito leve, como se pudesse voar sem fazer esforço, como se respirasse sem precisar inspirar e vê as flores de Clarissa que se espalham por todos os lados, em todas as cores... Mas onde está Clarissa?... Chama por Clarissa. ... Grita... Chama mais uma vez, muitas vezes e percebe que sua própria voz faz eco nas montanhas, se espalha pelos vales, e não parece voz humana e sim um canto de pássaro... a Poetisa olha e vê, às margens da curva do caminho uma cruz... ao redor da cruz, o chão está forrado de folhas escritas... a Poetisa reconhece as poesias que escrevera. Na cruz, a Poetisa lê

Aqui Jaz Clarissa

Uma mulher sem sobrenome e sem rosto, igual a todas as outras mulheres:

viveu do amor, para o amor e morreu no desamor de todos que amou.

A Poetisa entende que Clarissa já não está mais entre os vivos, que já se fora e pergunta de si para si - "E eu, a Poetisa? Como irei viver sem Clarissa?"

O canto do pássaro se torna mais forte, mais audível e no céu uma Andorinha solitária voa, fazendo círculos no ar e no seu vôo vai deixando cair mais papéis, muitas folhas escritas sem tinta, e sim, marcadas em cifras de sangue e lágrimas, que contam sonhos, desejos, esperanças, desesperos, medos, alegrias...

A Poetisa compreende tudo e aceita que agora é uma Andorinha e voa... segue seu destino e em algum lugar vai encontrar outra Clarissa apaixonada por qualquer outro Guerreiro, cheia de ânsias e desejos humanos querendo entregar o seu amor e então ela, Poetisa se juntará a nova Clarissa apaixonada para lhe escrever outros versos, muitos versos, pois é assim que a Poetisa vive, de beber na boca dos outros o amor e os desejos e transformar em versos que cantam, exultam e choram e não morrerá nunca porque por todos os lugares por onde passar, deixará plantados no chão folhas que parecem papel e podem se desmanchar sob qualquer chuva miúda, mas em verdade são indestrutíveis pelo tempo e pelas intempéries, como indestrutível é o anseio de eternidade do homem.

Mas, somente, o Amor é Eterno, todo o resto é vaidade e fantasia. Todo o resto é ilusão e passa. Sempre estarão nascendo Clarissas que irão amar outros Guerreiros e no meio deles estará sempre a Poetisa, cantando e louvando em versos, o Amor, pois Clarissas e Guerreiros passarão, mas os versos, que a Poetisa fizer pra eles, ficarão pra sempre espalhados por todos os cantos da terra, apontando às novas gerações, que o AMOR é a razão, a necessidade maior da alma do HOMEM.



FIM

autora: Regina Célia de Souza

Direitos Autorais Reservados

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