Bem vindo à Clarissa

Acesse Clarissa NA LATERAL DO BLOG que estão na ordem correta, do capítulo I para o último.

Clarissa é a estória de uma mulher de mais de 50 que se afasta de seus familiares para viver uma vida solitária no campo, entre flores, animais e a natureza.

Clarissa era para ser um poema em texto sem rimas, sem métricas, por isto a imagem da poetisa.

Espero que você, leitor, goste, critique, e passe aqui também a sua emoção.

Quando eu fiz este blog com o meu livreto "Clarissa" não tinha experiência em blogs e não sabia que ele acabava sempre mostrando a ultima postagem e fiz ele normalmente. Depois tomei consciência de que ninguém pode ler um romance do ultimo capítulo para o primeiro, portanto, oriento voces a LER CLARISSA seguindo o menu lateral que foi colocado na sequência crescente.

Grata pela compreensão

ReginaCelia
ReginaCelia

terça-feira, 8 de março de 2011

Clarissa - Confidências - capitulo X - parte 3

Confidências n. 3

Poetisa fala o que percebe de tudo


Clarissa se recolheu cedo aquela noite. Estava exausta com tudo. Todas aquelas confidências calavam bem fundo em sua alma de mulher.

A Poetisa passou a noite escrevendo para não esquecer. Todos aqueles relatos de Clarissa precisavam ser registrados. Clarissa queria isto quando contou. Sabia que a Poetisa iria escrever, iria contar ao mundo, para que o seu exemplo servisse de algum parâmetro para mulheres desavisadas que adentram a internet acreditando que ali vão encontrar o grande amor de suas vidas.

Amor de internet é momento vazio, embora pareça ser cheio de emoções, mas de fato, se alguma das partes envolvidas vive aquilo com intensidade, a parte mais esperta, geralmente, a masculina que é mais racional. Aquele momento, nada mais é brincadeiras sem conseqüências, e para a maioria destes homens as mulheres que eles utilizam como parceiras, eles as sentem e compreendem como sendo uma prostituta não remunerada, pois nem merecem ser remuneradas, pois tudo que fazem é servirem de apoio para fantasias masturbatórias.

Esta é uma verdade tão verdadeira, que os homens que freqüentam internet e se relacionam com mulheres através dela, geralmente, não permitem de forma alguma que suas esposas, pacatas donas de casa (acreditam eles; mas será verdade?) pelo menos se aproximem do computador.

Mas, então Clarissa passa uma noite agitada, acorda um pouco arredia, silenciosa, não querendo mais falar sobre o assunto. Pra quê falar? O que está feito, acontecido está, não tem jeito, não podemos voltar atrás. É seguir em frente e olhar para o mundo com os olhos da razão. Entender que uma mulher que beira os 60 anos não pode esperar de nenhum homem uma paixão avassaladora, que conduza a um final de romance feliz. Os homens são mais comedidos, mais racionais em suas escolhas. Um homem de 60 quer uma mulher de 30, um homem de 70 uma mulher de 40 e dai por diante, mesmo que seja só para olhar, para sustentar, para exibi-la ao mundo, como um troféu... "Veja, mundo (dizem eles sessentões)... esta mulher esbelta, jovem, atraente, inteligente, honesta, mãe dedicada, é minha esposa, mulher dedicada, amorosa, respeitável.. eu sou pra ela, pai, irmão, amigo, um Deus, menos um parceiro de amor...". Não interessa se esta mulher bonita, honesta, inteligente, esbelta o faça de sapato e pise em cima; o faça apenas de burra, onde ela tira os recursos para os seus cabeleireiros, roupas novas, viagens e exibicionismo, e até para sustentar os amantes paralelos que vivem não só às custas delas, mas dos seus maridos OSCARES.



Mas o homem de mais idade, ele precisa desta exibição... mesmo que tenha que se sentir rejeitado sexualmente (na intimidade de seu lar)... mesmo que não receba nenhuma demonstração de carinho. Não importa... lá fora os outros não sabem deste seu pequeno desconforto doméstico... continuar dormindo sozinho... não ter quem lhe beije a boca... ou pelo menos o ajude a masturbar-se quando precisa e então ele tem que agir como adolescente, fantasiar olhando revistas, relembrando momentos reais e felizes, ou entrar na internet e encontrar uma mulher solitária e disponível. Esta é a verdade dolorosa, mas real, no nosso mundo feito de futilidades, vaidades e onde se dá muito pouco valor a sentimentos mais profundos de amor, companheirismo, família e responsabilidade.



Então eles deixam suas sacrossantas e imaculadas lindas mulheres dormindo tranqüilas para que não acordem no outro dia com olheiras, ou pele amassada e eles próprios passam suas noites na internet jogando com sentimentos de mulheres solitárias, carentes, distantes e por isto mesmo, inofensivas, pois algumas nem o verdadeiro nome dos ditus cujus ficam sabendo.. se entregam a uma brincadeira noturna por simples carência também, pois estão sozinhas, viúvas, separadas, abandonadas pelos seu velhos maridos que correram atrás de novas mulheres perfumadas e petulantes. Esquecidas pelos filhos, que montaram suas próprias famílias e de mãe ou pai velhos não querem saber nem notícias... Então, o casal de velhos sessentões passam a noite na internet, trocando carícias ilusórias, as quais no outro dia viram fumaça. Mas, para algumas mulheres acaba se tornando um pesadelo e para alguns homens um temor de serem pilhados por alguém, e perderem aquela segurança de ter uma mulher real para apresentar ao mundo e o seu mundo real de repente passe a olhar para ele,.. como um pobre velho abandonado, porque a esposa o pilhou se masturbando na internet. E, pior, muitas vezes, a mulher se aproveita deste fato, para tirar dele uma separação forçada, com uma bela quantia assegurada de pensão, que a dispensa totalmente, de ter que aturar suas rabugices.

Mas, porque um homem se masturba na internet se tem uma bela mulher jovem dormindo no quarto ao lado??? Simplesmente, porque, aquela bela mulher somente quer dele a segurança da sobrevivência e não quer lhe pagar como deve com o retorno de carinho e dedicação espontâneo e honesto.



Clarissa passa seu dia perdida em seus pensamentos. Não vai regar as flores, não brinca com a cadelinha, não procura pela Poetisa. Esta enfastiada, cansada, triste, envergonhada. Falar de tudo aquilo para sua amiga Poetisa veio assim clarear de certa forma a sua mente, mas por outro lado há uma negação... seu desejo de continuar a sonhar, de continuar a acreditar num homem bom, amigo, apaixonado... acreditar que existe em algum lugar do planeta terra, um ser que a ama... esta é uma necessidade mais forte que Clarissa, mulher de pé no chão... e então, ela envergonhada e rendida diante dos próprios sentimentos quer evitar olhar-se no espelho para não ver as marcas de sua idade... não quer falar com a Poetisa com medo de sentir censura no olhar da amiga, ou piedade, pior ainda, piedade, ela Clarissa não aceita. Ela não quer que tenham piedade dela. Ela não escolheu amar Guerreiro.. ... ... ... Guerreiro aconteceu em sua vida, como acontece a gente tropeçar pelo caminho e se machucar, ou caminhando encontrar um brilhante que nos deixa maravilhados, estupefatos...



Mas, a Poetisa, eterna amiga e companheira, não vai deixar que Clarissa se amargure sozinha num canto e vai até ela.

- Clarissa, venha, pega na minha mão e vamos caminhar pela curva do caminho. Vamos amiga, ver o sol que está hoje mais lindo do que nunca. Venha, suas flores imploram por carinho, cuidados, amor. Os animais estão lá fora e pedem a sua presença; todos querem dançar ao vento e agradecer a beleza do dia, mas não podem fazer isto sem você... eles não existem sem você... Eu, Poetisa, não existo sem você... Venha.. vamos conversar. Eu lhe devo alguma coisa... eu preciso lhe dizer o que penso e sinto a respeito de tudo... e se eu lhe ouvi com atenção e silêncio, você agora tem a obrigação não só para com você, mas por respeito a mim, Poetisa, ouvir a minha opinião, o meu lado poético ou racional, mas eu quero lhe dizer, todas as verdades que percebi e que entendi.



Clarissa, timidamente, titubeante, como se fosse uma velha de mais de 80 anos, curvada sobre o peso de sua própria dor, deixa que a Poetisa pegue em sua mão e a leve para fora, para ver o sol.



A POETISA FALA

"Clarissa, minha amiga, patroa, irmã, alma gêmea, alma de minha alma, corpo do meu corpo... vida de minha vida... não lhe quero assim tão triste, curvada sobre sua própria dor... olha para o sol... ontem chovia... e nuvens pesadas, cinzentas, ameaçadoras escondiam o sol... o mundo parecia triste... morto... mas as flores se deixavam molhar, aceitando tudo, pois sabiam que hoje, estariam lavadas, limpas da poeira dos maus tempos. Sabiam que perderiam algumas folhas, algumas pétalas e até botões, mas hoje, renasceriam, lindas, maravilhosas, cheias de vida e perfume para encantar a todos os homens. Hoje, o sol veio maravilhoso, com toda força, iluminou tudo, os montes cintilam, as flores agradecem e parecem dançar, os animais querem correr, se sentem limpos, se sentem refeitos. Assim é nossa vida, um ciclo de altos e baixos, de derrotas e vitórias... de anseios, desejos, decepções e realizações.

Não se sinta envergonhada de ter amado tanto, de ter acreditado, de ter tido sonhos. Você apenas mostrou para si mesma e para o mundo, que em qualquer idade somos capazes de amar com a mesma força da juventude. Que o amor, o verdadeiro amor não é um pulso hormonal, e sim um sentimento de potência humana. A paixão, o instinto sexual sim, nascem dos nossos ciclos hormonais e existem para facilitar e impulsionar o homem e a mulher para enfrentar as agruras da vida no processo de reprodução... pois sem reprodução o mundo acabaria na primeira geração. Mas vem a força da juventude e impulsiona, muitas vezes por caminhos errados, por geração de filhos em momentos errados, mas a força da natureza não escolhe, não tem racionalidade... é um pulso tão forte quanto todas as outras forças da natureza.

Mas, o amor, a necessidade de junção, de relacionamento, de troca de afeto e carinho permanece em nós até nos últimos momentos de vida. Não nascemos para estarmos sós, e sim para estar com os outros, para dar de nós para alguém... e para possamos dar de boa vontade, sem egoísmo e sem reservas, Deus coloca em nós o AMOR... a capacidade de amar. Não se envergonhe de ter amado tão ingenuamente e com tanta força o seu Guerreiro... antes de tudo pense que era você que precisava amar... e não ele que precisasse ser amado. Entenda isto. Se ele precisasse ser amado não teria jamais resistido a força deste amor que nasce e que jorra de dentro de você para fora, e que dele pediu tão-somente AMOR de volta e nada mais.

Eu, a Poetisa, vivo em você Clarissa; vivo dentro de você... leio você por dentro, lhe compreendo, aceito, rejeito, perdôo seus erros, seus desatinos... sua frieza de uma mulher que viveu de pés no chão lutando pela vida de seus filhos, zelando pelo seu lar, pensando em economias,... e eu, a Poetisa, coloco dentro de você o desejo, a ternura, a ânsia... o fogo do amor, tornando-a uma mulher mais completa, movimentando-se entre a razão e sentimentos profundos de afeto. Sim, quando você me mandou embora, estava certa; quando estou com você torno-a uma mulher romântica e sedenta de amor... que esquece a razão e se precipita na paixão, porque EU e VOCÊ CLARISSA somos juntas REALIDADE, VERDADE, NECESSIDADE, mas sobretudo somos o SONHO... O AMOR... O DESEJO... A PAIXÃO... A LOUCURA... O PERDÃO.. a doação, a entrega... A MENTIRA... a fantasia, a crença, a FÉ... eu e você Clarissa através de nossa alma imitamos os anjos, porque somos puras, imaculadas em nossos sentimentos e tudo que nossa alma quer é atingir a PERFEIÇÃO DO AMOR E SER IMORTAL... e com ESTE nosso corpo sujeito a fraquezas e doenças, desejos, vaidades e ambições, que se ressente como qualquer outro corpo das intempéries da natureza... somos com este corpo... a verdadeira essência do ser humano, MORTAL, portanto, sujeitas a erros e acertos em nossos atos. Então amiga, perdoa as suas próprias fraquezas e aceita as fraquezas daqueles que estão à sua volta. Perdoa e aceita esta Poetisa que é mais que sua amiga. É você mesma, a sua essência mais profunda, porque você Clarissa foi ao longo do tempo apenas uma tentativa de ser o que todos queriam de você como mulher humana... tentou, lutou, mas dentro de você, eu Poetisa fui mais forte, teimosa e irreverente, nenhuma desilusão da vida, frustração, dor ou rejeição consegui me levar de perto de você. Mesmo quando me mandou embora, fiquei aqui pelas redondezas, observando e soprando no seu ouvido os meus versos, as minhas palavras, os meus sonhos.

Não sinta vergonha de amar este Guerreiro. Pense apenas: amei muito, amo muito... não sei até quando amarei... dei tudo a ele tudo que eu tinha de melhor para dar... ele recebeu com relutância, medo, e até desprezo... mas eu dei, e dado está, daria de novo, pior seria se eu não tivesse sido capaz de dar.

Pense também, que Guerreiro não foi uma ilusão. Foi uma verdade em sua vida; uma verdade que você tocou com suas mãos, amou com seu corpo, desejou com seu coração e entregou com sua alma plena de confiança e fé, nele Guerreiro, acreditando e vendo-o como o melhor de todos os homens, como o homem eleito... o último, que você gostaria que tivesse sido o primeiro, o único, e permanente.

O que eu penso Clarissa de Guerreiro? Penso, com minha cabeça sonhadora de poeta, que ele a amou muito mais do que ele próprio quis aceitar, desejou, ou pensou em sentir. Faltou a ele, apenas a coragem de assumir. Se não fosse assim, outras vezes não teria lhe procurado, por formas estranhas e objetivos esquisitos... mas se ele precisou procurar, é porque lá no fundo dele mesmo, embora rejeite a idéia, você é a mulher que ele queria para ser sua companheira, amiga, amante, .... mas em verdade... verdade seja dita - nele Guerreiro, a Vaidade de ter uma mulher para mostrar ao mundo e a covardia para assumir seus próprios sentimentos são mais fortes que seu impulso de amor. Falta nele Guerreiro apenas isto...FORÇA NO AMOR... e não pense que ele é mau.. que ele é isto ou aquilo.... ele é o homem que você ama... quem sabe um dia você consiga lembrar dele apenas como alguém que foi amado... mas para este momento chegar, você Clarissa tem que olhar para frente.. buscar novos horizontes.

FIM DA CAPÍTULO N.10 parte

autora: Regina Célia de Souza

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